segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Minha vida mudará em saber da vida alheia, mesmo pagando por isso?



MARCOS DANTAS - Que existe mídia especializada que vive buscando ‘polêmicas’ para atrair àqueles que gostam de ouvir e discutir futilidades, isto é notório, o assunto ‘biografias não autorizadas’ é um deles, ocupou e ainda ocupa grande espaço dos noticiários como se isto fosse o de mais importante para o país. Agora será o STF (Supremo Tribunal Federal) que dará o veredicto sobre as ‘não autorizadas’, diante de ação impetrada por editores, enquanto que a ABL (Academia Brasileira de Letra) entrou com outra ação que dará auxilio ao STF. Se não fosse o caráter de cerceamento ao direito de expressão, certamente eu seria um dos que não perderia tempo na formação dessas ‘mal-traçadas linhas’.

Mas o oficio de ‘candinha’ fascina milhares de pessoas em todo o mundo, bisbilhotar, futricar, comentar a vida alheia virou regra para alguns. Lembro-me de quando em tenra idade, bem na praça onde servia de encontro para os namorados (ainda não existiam ficantes) localizava-se a casa de dona Miúda que, pelas frestas das janelas, tomava parte a ‘miúdo’ da vida amorosa dos jovens apaixonados, que sem ser autorizada, ia parar nos ouvidos do professor ‘Kute’ (José Alves da Mata Júnior) que, caprichava na argüição e, quem titubeava em responder, logo vinha a ‘indireta’ observação – se tivesse estudado mais ao invés de ficar com pouca vergonha na praça, saberia responder – quase que a classe inteira (meninas e meninos) se entreolhavam...

A biografia não autorizada, ou seja, a possibilidade de vir à tona, em forma de livro, a vida, inclusive íntima, de ‘famosos’ incomodou bastante nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Djavan, Erasmo (defensores das biografias ‘chapa branca’) e Roberto Carlos (este último voltou atrás e abandonou o grupo dos contras). A posição contrária desses e outros famosos, quanto a publicação de suas vidas pregressas, deixou perplexa muita gente que os conhece e admira desde tempos idos, onde estes, eram totalmente contrário a qualquer tipo de censura (leia-se ditadura militar); pegou muito mal para essas figuras da Associação Procure Saber, em momento que a nossa democracia amadurece e eles querem estabelecer uma espécie de pré-censura.

Noves fora o direito dos biógrafos de publicarem tais escritos sem autorização, de ganharem dinheiro em cima da ‘candinhagem’ dos figurões da vida artística, ou de outros setores da sociedade; ainda o direito dos supostos biografados de não terem suas vidas expostas em livro, ou de ‘ganhar algum’ pelo trabalho dos biógrafos; qualquer ensaio de censura é por deveras vergonhoso. Particularmente, não me interesso pela biografia de nenhum desses ou dessas famosidades. E para quem tem alguma dúvida sobre seu interesse ou não pela vida destes, é só perguntar para si: em que mudará minha vida ou a do meu semelhante, por saber da vida alheia, mesmo tendo que pagar por isso?

O ‘famosismo’ mantém seleto grupo de privilegiados que pouco se importa com a vida que levam seus milhares de fãs, seguidores, e da maioria do povo brasileiro, com a fama midiática associada a muito dinheiro. Aquilo que mais é proibido aguça a vontade de se ver, experimentar, conhecer... sobretudo quando já existe a predisposição de se querer saber da vida alheia. Igual no mundo dos negócios, a lei da oferta e da procura dita regras, quanto menos possibilidade de acesso ao desejado, mais caro fica o produto. Então será um ótimo negócio para biógrafos, ‘estrelas’ e editores que terão nos milhões de curiosos a fonte quase inesgotável do prazer em encher as burras com a venda das ditas cujas não autorizadas.