MARCOS DANTAS - Que existe mídia especializada que vive
buscando ‘polêmicas’ para atrair àqueles que gostam de ouvir e discutir
futilidades, isto é notório, o assunto ‘biografias não autorizadas’ é um deles,
ocupou e ainda ocupa grande espaço dos noticiários como se isto fosse o de mais
importante para o país. Agora será o STF (Supremo Tribunal Federal) que dará o
veredicto sobre as ‘não autorizadas’, diante de ação impetrada por editores, enquanto
que a ABL (Academia Brasileira de Letra) entrou com outra ação que dará auxilio
ao STF. Se não fosse o caráter de cerceamento ao direito de expressão,
certamente eu seria um dos que não perderia tempo na formação dessas
‘mal-traçadas linhas’.
Mas o oficio de ‘candinha’ fascina milhares de pessoas em
todo o mundo, bisbilhotar, futricar, comentar a vida alheia virou regra para
alguns. Lembro-me de quando em tenra idade, bem na praça onde servia de
encontro para os namorados (ainda não existiam ficantes) localizava-se a casa
de dona Miúda que, pelas frestas das janelas, tomava parte a ‘miúdo’ da vida
amorosa dos jovens apaixonados, que sem ser autorizada, ia parar nos ouvidos do
professor ‘Kute’ (José Alves da Mata Júnior) que, caprichava na argüição e,
quem titubeava em responder, logo vinha a ‘indireta’ observação – se tivesse
estudado mais ao invés de ficar com pouca vergonha na praça, saberia responder
– quase que a classe inteira (meninas e meninos) se entreolhavam...
A biografia não autorizada, ou seja, a possibilidade de vir
à tona, em forma de livro, a vida, inclusive íntima, de ‘famosos’ incomodou
bastante nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque,
Milton Nascimento, Djavan, Erasmo (defensores das biografias ‘chapa
branca’) e Roberto Carlos (este último voltou atrás e abandonou o grupo dos
contras). A posição contrária desses e outros famosos, quanto a publicação de
suas vidas pregressas, deixou perplexa muita gente que os conhece e admira
desde tempos idos, onde estes, eram totalmente contrário a qualquer tipo de
censura (leia-se ditadura militar); pegou muito mal para essas figuras da
Associação Procure Saber, em momento que a nossa democracia amadurece e eles
querem estabelecer uma espécie de pré-censura.
Noves fora o direito dos biógrafos de publicarem tais
escritos sem autorização, de ganharem dinheiro em cima da ‘candinhagem’ dos
figurões da vida artística, ou de outros setores da sociedade; ainda o direito
dos supostos biografados de não terem suas vidas expostas em livro, ou de
‘ganhar algum’ pelo trabalho dos biógrafos; qualquer ensaio de censura é por
deveras vergonhoso. Particularmente, não me interesso pela biografia de nenhum
desses ou dessas famosidades. E para quem tem alguma dúvida sobre seu interesse
ou não pela vida destes, é só perguntar para si: em que mudará minha vida ou a
do meu semelhante, por saber da vida alheia, mesmo tendo que pagar por isso?
O ‘famosismo’ mantém seleto grupo de privilegiados que pouco
se importa com a vida que levam seus milhares de fãs, seguidores, e da maioria
do povo brasileiro, com a fama midiática associada a muito dinheiro. Aquilo que
mais é proibido aguça a vontade de se ver, experimentar, conhecer... sobretudo
quando já existe a predisposição de se querer saber da vida alheia. Igual no
mundo dos negócios, a lei da oferta e da procura dita regras, quanto menos
possibilidade de acesso ao desejado, mais caro fica o produto. Então será um
ótimo negócio para biógrafos, ‘estrelas’ e editores que terão nos milhões de
curiosos a fonte quase inesgotável do prazer em encher as burras com a venda das
ditas cujas não autorizadas.