quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Um ‘debate-boca’ mas que agrada a muitos


MARCOS DANTAS - Na última terça (16) ocorreu pela TV Band o primeiro debate do segundo turno entre os candidatos a presidente Dilma(PT) e o senador Aécio(PSDB), contudo, longe de ser uma discussão de propostas, o que se viu e ouviu foi um ‘bate-boca’ daqueles de botecos. Acredita-se que, não por incompetência ou por falta de conteúdo dos candidatos, afinal os dois têm formação superior em Ciências Econômicas. Ela além de ter exercido cargos técnicos no governo anterior, atualmente é mandatária da nação. Ele exerceu cargos técnicos no governo de Minas, e atualmente é senador da República.

O formato do debate promovido pela referida emissora considerei um dos melhores e seria brilhante se os candidatos tivessem aproveitado a oportunidade para elevar o nível do debate e oferecer ao público algo consistente, apresentação e discussão de projetos e não apenas a retórica do passado e promessas genéricas inclusive para serviços básicos à população. Parecia não ser um debate entre duas pessoas que disputam o mais importante cargo do País, e sim meros candidatos a ‘subprefeitos’ de alguma vila distante em qualquer lugar.

Mas a informação que se tem é que a audiência durante o debate aumentou consideravelmente e com repercussão nas redes sociais. A confirmação de que o ‘debate-boca’ não influenciou em nada em termos de intenção de votos foi a pesquisa eleitoral um dia depois apresentando empate técnico entre os dois. Mas o quê justifica a audiência estrondosa do debate? Talvez o estilo ‘telequete’, o bateu-levou, a avidez por mais denúncias, xingamentos, ou seja, o ‘barraco’ nos moldes Programa do Ratinho ‘vamos quebrar tudo’. Quem sabe seja isso mesmo que a população espera ver nos políticos sem se importar que estes estejam na vila ou em Brasília.

O tele-circo (pejorativo) foi uma vergonha para nós os tupiniquins que, ficamos expostos diante da opinião pública externa pois dois canais de televisão estrangeiros transmitiram as sessões de ‘mordidas de orelhas’ bem orquestradas pelas assessorias dos candidatos e bem contracenadas por Dilma e Aécio. Oxalá que os telespectadores estrangeiros não reputem a todo povo brasileiro o comportamento idêntico dos nossos representantes no Planalto e no Senado.

Os poucos minutos dedicados a assuntos do interesse coletivo foram suplantados por descrição de feitos no passado, e pelo confronto político-partidário acentuado por acusações e ataques, além das defesas evasivas. Aliás, os dois partidos (PSDB e PT) no plano geral estão idênticos, foram e são protagonistas de erros e acertos, quem dera que os erros fossem menores. Chega ser engraçado ver e ouvir os candidatos atribuindo atos de corrupção ao partido do outro. Em resumo, estamos com uma candidata e um candidato, a observar suas intempéries nesta campanha, só servem para presidir uma republiqueta de bananas (que as bananas me desculpem).

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Os 37 milhões de ‘rejeitores’ do processo eleitoral


A voz das ruas...

MARCOS DANTAS - Estive pensativo durante todo o primeiro turno das eleições, talvez esperando o segundo, quando se teria um quadro mais claro do processo de ratificação para o atual governo, ou a substituição da cúpula governamental. O 'hilário/otário' eleitoral não serviu e nem serve de parâmetro para se extrair alguma boa ideia ou inspiração até mesmo para votar. O ‘carrossel eleitoral’ liderado pela Dilma (PT), agora seguida de perto por Aécio (PSDB), continua não atraindo a minha atenção, acredito que de pelo menos mais 37 milhões de outros brasileiros e brasileiras.

Vamos para mais uma importante eleição, sem um BUM político, os mais sarcásticos dizem que o que temos é um PUM eleitoreiro contumaz e não uma disputa entre direita e esquerda, capaz de empolgar além dos militantes (maioria paga) que empunham as bandeiras 13 e 45. E a desgastada polarização de 16 anos com o velho discurso enferrujado embalado pelo programa ‘obrigatório’ eleitoral que de gratuito não tem nada.

Somados abstenção, nulos e brancos temos um recorde em relação a 2010, 29,03%. Significa que mais de 27 milhões de eleitores não compareceram às urnas, mais de 4 milhões votaram em branco, e mais de 6 milhões anularam o voto. Aproximadamente 38 milhões de eleitores, insatisfeitos com o atual sistema eleitoral, não é uma insatisfação com Dilma (PT), Aécio (PSDB) ou mesmo a Marina (PSB) que sucumbiu no primeiro turno. Na verdade o resultado para presidente poderia assim ser divulgado: Dilma 41,59%, Aécio 33,55%, (Insatisfeitos 29,03%) e Marina (PSB) 21,32%.

A leitura destes 29,03%, que virtualmente ficaram em terceiro lugar é que de fato deve interessar a todos, ultrapassou o fenômeno Marina que esteve a frente de Aécio e que por alguns dias passou a ideia de que disputaria com Dilma o segundo turno. Sem desprezar o forte indício de que a obrigatoriedade do voto tenha suscitado um novo sentimento no eleitor, já que a primeira lição democrática é enfática: O VOTO É OBRIGATÓRIO. Revoguem-se as disposições em contrario, pode ser que os protestos entre maio e junho passados que levaram milhões às ruas instigados inicialmente pelo aumento das tarifas no transporte público (20 centavos), incorporando o grito contra todas as mazelas da maioria dos agentes políticos, agentes policiais, agentes da justiça, etc. nas três esferas da federação, despertaram silenciosamente neste pleito.

Outro aspecto a ser observado o processo desgastante tanto para a presidente-candidata, quanto para eleitores e a máquina administrativa que ainda serve de palanque e dar uma considerável vantagem a quem detem o poder. A reeleição implementada por Fernando Henrique Cardozo custou caro aos brasileiros, o congresso (minúsculo mesmo) se aproveitou da situação e as bancadas leiloaram os votos pela aprovação da emenda constitucional, e dela desfrutaram o próprio FHC, o Lula, e Dilma que a pleiteia. Dia desses ouvi um analista dizer que “infelizmente no Brasil a reeleição não deu certo”.

Além do governo de compadrio a que é submetido a administração pública, resultando em atos viciosos de corrupção, estabeleceu ainda mais a ‘relação comercial’ entre executivos e legislativos e a barganha política virou moeda forte para os que querem se perpetuar, no poder, uma espécie de ‘monarquia-republicada’ para ungir aqueles fiéis à cartilha do mandatário. Fica a dica para Dilma e Aécio, comecem o programa eleitoral do segundo turno se comprometendo com o povo brasileiro que, se eleito(a), proporão o FIM DA REELEIÇÃO no Congresso, mas chamem os 29,03% de insatisfeitos para irem à Brasília vigiar para que não haja ‘cobrança’ para se desfazer algo que nunca deveria ter existido. E se quiser ser mesmo campeão de voto basta prometer que, se eleito(a) colocará fim no horário de verão!

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Começou a Copa do Mundo da FIFA sem gingado


MARCOS DANTAS - Até que tentei mas não consegui gostar de futebol. Assim sendo sou meio que suspeito em dar ‘pitaco’ em assuntos afins. Contudo, ‘da mó do outro’, em copa do mundo todos viram comentaristas, árbitros, técnicos, atacantes, goleiros, e até gandulas. Aproveitando dessa premissa me atrevo analisar o clima da maior festa do futebol destacando a falta de gingado (característica do que tem ginga, que tem molejo...), claro, impedido pelo padrão Fifa - Federação Internacional de Futebol; imposto ao governo brasileiro em visível interferência externa.

Há sete anos, por sua vez a cúpula do Planalto (o então presidente Lula e assessores) não consultou a população se esta era favorável ou não a copa ser realizada aqui. Talvez pela tradição(?) de o Brasil ser o país do futebol, se sentiu a vontade para tomar a decisão pelos passivos brasileiros ‘futebolmaníacos que param o Brasil’ por ocasião de copa do mundo (da Fifa). 

Chegada a hora da ‘onça beber água’, a maioria dos estádios palco das disputas não está cem por cento com suas obras concluídas... além do superfaturamento das reformas e construções desses, em detrimento a falta de maior investimento em serviços básicos como saúde e educação, estradas, transportes públicos e segurança, o responsável pelo estouro de protestos inclusive contra a copa em todo o país, começando pela rejeição do reajuste de 0,20 centavos nas conduções coletivas das principais cidades em todos os estados.

Mas e a paixão dos brasileiros pelo futebol? Alguém poderá responder que é coisa do passado, paixão das copas 1958, 1962, 1970... (depois 1994/2002), Brasil Campeão! Auge do governo ditatorial - "noventa milhões em ação / Pra frente Brasil / Do meu coração/ Todos juntos vamos /Pra frente Brasil / Salve a seleção" – era a nação ‘contra’ o mundo... enquanto nos quartéis e no Planalto as mazelas e atrocidades eram articuladas com a indiferença da população que vibrava nas ruas. Para os ‘heróis’ chegando do México, honras militares e aplausos do povo doravante ‘esfaqueado pelas costas’.

A presidente para alguns, presidenta para outros, Dilma Rousseff afirma que esta será a copa das copas... tomara que seja mesmo, pois até agora o quê se vê é uma copa atípica, pouco entusiasmo popular como se via em anos anteriores, apenas aqui e acolá alguns tímidos enfeites de ruas, talvez podendo aumentar com o início dos jogos e possíveis vitórias da seleção canarinho. Governos Federal, estaduais e municipais devem preocupar de fato com a segurança especialmente de crianças e adolescentes que podem ser presas fáceis do assédio para a prostituição e drogas, pois o legado social para o Brasil poderá ser negativo.

O comércio e o setor de turismo, que podem faturar com a ‘invasão’ de turistas nas cidades sedes dos jogos, e que esperam o retorno almejado, sentem a falta de articulação encetada pelo ministério e secretarias estaduais e municipais de turismo para programação que envolvesse turistas e populações locais. As copas até 1970, esta realizada no México certamente não colocou referidos países tanto em evidência nos quatro cantos do planeta quanto esta no Brasil, cinqüenta e seis anos depois do primeiro título, realmente é a ‘copa das copas’ em termos midiáticos, e o Brasil é mostrado e comentado em todos os quadrantes, certamente o superfaturamento das arenas poderá ser compensado com o retorno do turismo pós-copa, embora isto não isente os (i)responsáveis da culpa pelos desmandos.

Quanto a atipicidade do povo em relação ao Mundial de Futebol deve-se, afirma alguns, ao engessamento da Copa explorada pela entidade/empresa que profissionalizou de tal forma a ‘pelada do mundo’ que agora é da Fifa, que o gingado típico não é mais visto nem mesmo pela torcida que ‘perdeu’ até o pagode já que os mandatários da entidade registraram a patente (domínio) do nome mais popular da roda de samba entre a maioria dos brasileiros. Outra explicação pode ser a de que a maioria dos brasileiros entende que jogadores e dirigentes não vestem a camisa para defenderem o Brasil e sim seus ricos salários (como sempre) e a fama advinda dos lances e atitudes às vezes controversas, que os leva às primeiras páginas dos jornais, revistas e manchetes dos telejornais.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Que tipo de informação quero receber?



MARCOS DANTAS - Ao dedicar alguns instantes à leitura do Livro Eclesiastes, percebi que realmente compensa viajar em cada capítulo, mas o versículo 9, do capítulo 1º, para o que desejo expressar, chama atenção pela afirmação que transcende os tempos, pois o Eclesiastes fora escrito 935 aC, pelo Rei Salomão (sic) “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol”.

Após meditar sobre tal afirmação de quase 3.000 anos, proferida por um dos homens biblicamente considerado um dos mais sábios e que ainda assim fez consideração quanto armazenar o saber - Porque na muita sabedoria há muito enfado; e quem aumenta ciência aumenta tristeza (Eclesiastes 1:18); isto me fez pensar sobre o quê eu quero saber de verdade. Que notícia quero ler, ouvir, que informação guardar?

E por falar em sabedoria também se encontra nas Escrituras Sagradas - A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo o que possuis na aquisição de entendimento (Provérbios 4:7). Parece contraditório... pois este outro Livro também fora escrito pelo mesmo rei Salomão. Posso imaginar que, em primeiro plano, o sábio Rei estaria se referindo ao noticioso, o trivial, os acontecimentos naturais, os percalços dentre um povo, a rotina de violência; etc. e em segundo plano, a Sabedoria e espírito elevado, que ilumina ao ser compartilhada.

Ao se abrir a maioria dos jornais, sintonizar canais de TV, estações de rádios, inclusive nas versões on-line, nos deparamos com ‘informações’ do tipo:
- Linchamento de culpados e inocentes
- Invasão de vírus nos computadores e antivírus não conseguem mais evitar
- Cresce a corrupção e os escândalos em todos os lugares (chegou o tempo de se ter vergonha de ser honesto)
- Drogas lícitas abrem caminho para as ilícitas
- Acidentes, balas perdidas e crimes bárbaros matam mais que guerra civil
- Prostituição, estupro, pedofilia, homofobia e racismo: mal de todos os séculos
- Agressão ao meio ambiente é comparada a depressão, traição e infidelidade
- Viciados em tecnologia engrossam estatísticas em enfermidades
- Seca assola no sul e chuvas torrenciais destroem no norte...

Sensacionalismo, sobre sensacionalismo que geram expectativas e mais expectativas em torno do que ainda pode acontecer, do que virá amanhã! Pensa-se que nada mais poderá acontecer pois isto já é o limite e, quando passam os dias logo todos são novamente surpreendidos com o bombardeio de novas(?) notícias, iguais ou piores que as anteriores. O semblante e a tonalidade de voz e dos âncoras nos telejornais são tão assustadora quanto a guerra nuclear, tsunamis, terremotos e maremotos, aquecimento global, alguém exclama, é o apocalipse!

Estudos afirmam que a partir dos 40 anos a capacidade de armazenar informações começa a sofrer um processo lento e gradativo de deterioração, ou se, no mundo moderno, a quantidade absurda de informações com que somos bombardeados dificulte sua assimilação. Segundo o médico paulista o geriatra Alberto Macedo Soares, essa é uma dúvida a ser esclarecida - Não se pode negar que, hoje, além do acúmulo enorme de informações, o grau de preocupação é tanto que o trabalho não se encerra com o término do expediente. Muitas vezes, a pessoa de 40, 50 anos entra em casa, liga o computador e continua em atividade, comprometendo as horas que deveriam ser reservadas para descansar e dormir. Essas situações são responsáveis por aumento da carga de estresse e pelo déficit de atenção, que podem provocar prejuízo da memória, principalmente da memória recente.

Com esta overdose diária de informações(?) não resta tempo para se detectar manipulação de imagens, de conteúdos, de pesquisas, de dados, etc., e as autoridades científicas e políticas estão confusas e não sabem se de fato o planeta encontra-se na fase de aquecimento ou resfriamento global, enquanto a economia mundial cambaleia e os sistemas políticos estão por um fio. Mas agora o que interessa é a Copa FIFA do Mundo, em seguida a enfadonha campanha política, e em 2016 as Olimpíadas. É tempo de demasiado direito e poucos deveres, é tempo de programações fúteis nos meios de comunicação e correntes sem nexos, além de extrema amizade, amores e abraços pelas redes sociais.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Marcha da Família com Deus pela Liberdade: Guilhotina ou ditadura militar?


MARCOS DANTAS - Isto comprova a FALTA de uma liderança FORTE nos âmbitos municipal, estadual e nacional, e leva 'saudosistas' e aqueles que não conhecem de fato uma ditadura militar, ou desnorteados pela ausência de liderança confiável, ou mesmo por falta das benesses que a ditadura lhes concedia, pedem o que não deviam pedir.

Depois da redemocratização na década de 1980 para cá, ainda não tivemos um governo que durante a gestão ou após esta, não haja indícios, flagrantes, ou denúncias de corrupção. A maioria dos integrantes da classe política nos municípios, estados e federação, está comprometida com a corrupção ativa ou passiva.

Alguns dizem que os executivos e legislativos 'são a cara do povo'. Infelizmente a maioria do povo vota mesmo em desonestos, sabendo que o são, em troca de vantagens das mais variadas possíveis, e razões que a própria razão desconhece. Contudo há os que são em verdade seletivos e querem uma mudança efetiva na forma de se praticar a política como arma administrativa para o bem comum.

Nem tudo, ou nem todos, é lama, ou são fétidos na ‘pirâmide’ política que ‘manda e desmanda’ em favor ou contra a maioria que os consagrou representantes destes. É com essa minoria de políticos ainda confiáveis que o povo brasileiro pode contar para que haja uma justa administração que faça jus à Democracia e que seja de fato um governo do povo para o povo.

Ano passado o Sr. Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) criticando a impunidade disse “o povo não sabe de um décimo do que se passa contra ele próprio - Se não, ia faltar guilhotina para a bastilha, para cortar a cabeça de tanta gente que explora esse sofrido povo brasileiro”...

Certamente que Alckmin devia estar se referindo à Revolução Francesa entre 1789 a 1793 surgida pela patente desigualdade social que imperava naquele país que vivia em um enorme abismo sócio-econômico que separava a nobreza do restante do povo. Havia injustiça até mesmo na hora da execução de um condenado, de acordo a sua origem social. Enquanto os nobres podiam ser apenados à espada (etc), e a classe popular era esquartejada, ou queimada viva. Da nobreza, as famosas ‘vítimas’ da guilhotina foi o próprio rei Luis XVI e Georges Danton, um dos líderes populares da revolução.

Em se tratando do Brasil, em que vale ressaltar, o abismo que existe entre a classe política dominante, e o povo, no que diz respeito aos privilégios, é de se comparar à realidade vivida pelos franceses no Século XVII. Mas daí, em retroceder e clamar pela volta do regime militar, ou, radicalizar com a implantação da guilhotina, lembrada e, supostamente sugerida pelo Sr. Alckmin, seria no mínimo irracional, pra não dizer desastroso. Embora, se se consultar a população dando as opções entre a ditadura militar e a guilhotina, é quase certo que a invenção do médico político Joseph Ignace Guillotin seria a vencedora.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Falar com o dono não adianta, o sistema é quem decide


MARCOS DANTAS - Na vila chamada Banco Central, lugarejo onde nasci, encravado entre duas serras, lá no Sul da Bahia, município de Ilhéus, entre tantas figuras pitorescas, conheci com meus olhos de criança o seu Valentim; (será que a brabeza dele tinha a ver com o nome?) fato é que o sujeito era um baiano bruto, rústico e muito, mas muito sistemático.

Para se ter idéia, seu Valentim, que raramente comprava uma camisa nova, quando isto acontecia, ainda na loja ele arrancava logo os botões, seu sistema era usar a dita-cuja aberta. Certa feita, ele entrou com esta desabotoada no ônibus e o motorista lhe chamou atenção, ao que ele rispidamente respondeu “eu deço mas não abutuio”.

Historicamente o pioneiro sistema a ser implementado por aqui foi o sócio-político-econômico escravocrata. Relação esta entre senhor e escravo que serviu de alicerce que estruturou o voraz estado brasileiro. E nessa moldura vivemos escravos do sistema que não é o do seu Valentim que a única vez que pisou em um banco queria falar com o dono do mesmo. “Se não posso falar com o dono intão não vou botar meu dinheiro aqui”.

Os tempos modernos além de franquear a tecnologia também escraviza com seu implacável e feroz sistema. Você já é o ‘ultimo do derradeiro’ na fila e quando chega a sua vez, ouve: o sistema caiu, o sistema está lento, o sistema o sistema não libera, o sistema acusa que o senhor(a) deve a deus e ao mundo, o sistema está fora do ar, o sistema só libera até esse limite, aqui pelo sistema o senhor(a) não é o senhor(a)... 

Naquele tempo o freguês ia na ‘venda’ comprar alguma coisa e se o nome tivesse ‘sujo’ no livro, então era informado pelo dono (sistema) da venda que havia atraso de pagamento e que por isso não seria possível atende-lo naquele momento... a situação poderia ser logo revertida caso o devedor apresentasse uma boa justificativa acompanhada da promessa de pagamento o quanto antes.

Depois do sistema dominar todos e tudo o cidadão(ã) que paga caro por tudo, inclusive leva uma pesadíssima e insuportável carga tributária é obrigado(a) abaixar a cabeça, ainda que revoltado, mas como bom escravo(a) nada dizer, nada reclamar nem com ‘o bispo’, como se dizia...

O sistema é o cruel senhor do engenho, o capitão da senzala. Com uma mão lhe oferece benesses quando quer, e com a outra lhe chicoteia até a alma, sem compaixão, não há direitos humanos que incrimine, policie os atos do sistema contra cada ser humano, em especial os menos favorecidos, desprovidos de meios para se defender ou driblar os golpes certeiros do algoz.

Quarenta anos depois entendo o que se poderia chamar hoje de contra-sistema do seu Valentim, como a vislumbrar um futuro ainda mais sistematizado, se defendia da forma que melhor lhe convinha. Contra o sistema só bilhões de valentins, brutos, rústicos e sistemáticos.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Quando crescer, quero ser velho...



- Menino vai estudar pra ser alguém na vida!
- Sabe de uma coisa, quando eu crescer eu quero mesmo é ser velho, igual o vovô...

MARCOS DANTAS - O mundo não era tão moderno quando já se ouvia a celebre declaração dos mais velhos exortando os de tenra idade executar seus conselhos para assim se tornarem ‘alguém na vida’.

Alguém na vida já o é desde a concepção que, ao passar dos dias os genitores já podem se comunicar com o pré-rebento que responde com os famosos ‘chutes’ na barriga.

Certo é que poucos pensam que independente de ser ou não ‘alguém na vida’, ficar velho é uma lei natural de todo ser. Com a modernidade chegou também para alguns uma melhor qualidade de vida, o que proporciona o alongamento de dias e os velhos passaram ser considerados idosos.

Mas para aquele menino, o velho avô era velho mesmo, sua barba e cabelos brancos diziam que ele era velho, sábio, muita experiência, isto era demonstrado nas palavras, nos gestos, nas brincadeiras, no olhar e nas respostas sobre cada coisa que o menino queria saber.

O velho sabe que não precisa ir à farmácia comprar o remédio, seu pai, seu avô lhe ensinara que bem ali na mata, no pasto, no quintal da casa tem aquela folha, ou raiz para fazer o chá. O velho aprendeu que uma boa amizade não faz ou se mantém via Web, facebook, SMS, smartphone, câmeras digitas (as fotos de lambe-lambe formavam os álbuns), notebook, laptops, tablets, iPhone, iPad, os velhos orkut/MSN... a amizade não precisava de upload, download nem de links, era o bate-papo ali no pé do ouvido com o compadre.

TI (tecnologia da informação) nem pensar! Bastava um pulinho na esquina e já se sabia de tudo da vila, nada de globalização, política econômica, política interna e externa, câmbio, trânsito, bolsa que sobe que desce, o mundo não interessava, já se tinha assunto demais para ser falado. Ficção só mesmo nas conversas em noites de lua cheia, todos sentados à porta da casa, as crianças brincando no terreiro, enquanto os velhos falavam de lobisomem, mula-sem-cabeça, caipora, e tantas outras figuras do repertório imaginário dos velhos idosos.

As frutas e legumes eram cultivados sem agrotóxico e bastava ir à roça que as sacolas voltavam, apinhadas, dos mais variados gêneros que garantiam o cozido de fim de semana que reunia toda família e os amigos mais chegados. Estresse era algo que não se falava e nem se sentia, todos riam de si, das conversas corriqueiras, das lembranças vividas e contadas pelos ‘causos’ floreados até repetidos mas que atraíam a atenção e faziam sucesso bem mais que os programas rebolantes da TV, das telenovelas ‘super-sensualizadas’ e do indecoroso, anti-família, e malfadado Big Brother.

Compartilhar os bons momentos, estar juntos na alegria, na doença e na tristeza, curtir a paisagem bucólica do campo e o olhar meio que insinuante da moça na janela era o que se arquivava nas memórias que o tempo não deleta, e tudo era atualizado quando se navegava entre nuvens formatadas virtualmente pelos sonhos.

- E as músicas do seu tempo vovô?
- Ah, as músicas eram verdadeiras poesias, falavam das flores, do beijo na mão, da casinha de sapê, do vestido azul, do azul piscina, do barquinho e do mar, do rio e das florestas, da injustiça, da pobreza, cantava contra a guerra, falava do amor. Composta e cantada por encanto da mulher (não era chamada de frutas), nunca as chamava de cachorras, preparadas, novinhas e não se ouvia palavrão...
- Palavrão como Otorrinolaringologista?
- Não, palavras que quando os meninos falavam, suas bocas eram lavadas com sabão.
- Então vovô, quando eu crescer, eu quero ser velho...